terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Eu sou... Clive B. Capítulo Nono - Em Cada Pedra Dessa Rua, Há Um Pouco de Mim


"E naquele momento, quando decidi que não queria mais voltar para casa, percebi que pela primeira vez não tinha tomado essa decisão por ser mimada ou fugir dos relacionamentos que eram importantes. Naquele momento percebi que o objetivo não era "concertar" todos relacionamentos conturbados que eu tinha, e sim apenas seguir em frente. Não ficar remoendo ou tentando remendar as coisas, porque na verdade tudo nessa vida tem a oportunidade certa, e não adianta insistir, pelo contrário, insitir no que não foi é ser masoquista.
Aquilo era sobre eu percebendo que abrir mão de um relacionamento que me fez mal era a prova de que pela primeira vez estava sendo a menina corajosa que sempre quis ser."

Pandora, Desejo.



Gosto deste trecho acima. É de um livro. Muito bom por sinal. Às vezes acho que sou mais um personagem nesta história. Porque o retrato da vida tem vários ângulos, e o livro 'Desejo' dá uma porção deles. Onde eu deveria estar?


Triste melodia carregavam aquelas árvores. Adentrei numa rua coberta por elas. Folhas grandes e vistosas. Abandonadas no silêncio das suas cores. Banhadas pelo sol e a lua, respectivamente. Uniformes. Formavam uma corrente pela qual eu queria ser embebido. Meus passos quase ecoavam por lá. A rua tinha pedras avermelhadas e deformadas. As calçadas tinham bancos acinzentados que na certa assistiram diversas lágrimas e beijos. Telespectadores das vidas que por aqui desfilaram. Eu era o novato. Mãos vazias. Bolsos vazios. Histórias a escrever.


Sentei na beira da calçada. Tinham algumas formigas por perto que marchavam categoricamente em fila. Demorou pouco para que o sol adormecesse. Os últimos raios alaranjados foram uma pintura incomum. Passei a mão pelo cabelo e deitei no banco. A nostalgia me atingiu como um cão que corre para pegar o osso que o dono lançou. Brincadeira boba que os caninos agradecem com um balançar de rabo. Deve ser sarcasmo deles.

Eu me alimento de dor. Mais do que simples quebras de contrato, eu me deleito com o sofrimento. Eu entro nas vidas e as manipulo. Com facilidade. Logo todos jogam o meu jogo. Psicopatia é meu café da manhã favorito. Talvez seja uma dose egocêntrica que eu engulo tão rápido. Só quando protagonizo (ou antagonizo) vidas e histórias, minha alma sossega com paz. Uma paz fajuta, comprada. Mas de que importa? Tenho alma teatral. Construo personagens e facetas, e logo faço uma festa e celebro todos estes temperamentos. É enlouquecedor... Mas foi cada fraqueza que roubei dos labios beijados pelo meu cinismo que foi usada para a construção deste baile de máscaras.


Agora eu seria Clive. A faceta ideal pra lidar com as desilusões e ilusões de desamor. Sou vítima da minha própria distimia. Auto-medico cada batida desse coração obscuro com goles de tequila. Porque a noite é o meu quadro em branco, e cada dia é uma nova inspiração para pintá-lo. Minha aquarela de mentiras é um arsenal infindável. E o último gole vocês assistiram. Vocês jamais saberão a verdade absoluta (se esta existir). Porque só mostro os lados mais rasos do meu mundo. E até onde estariam dispostos a adentrar?



Mas caótico ou supérfluo, o personagem é sempre uma busca por auto-identidade. Ou simplesmente uma atitude desvirtualizada da cena principal. Eu não tenho limites. Atuarei até onde os aplausos me seguirem. Mas para isso, preciso arrancar as partes que ainda me acorrentam ao amadorismo. Porque laços são perdas de tempo artística. Só quando libertar-me do passado poderei nadar pelas correntezas do meu corpo.


O escuro é mais aconchegante. Quando o peso, o tipo de cabelo e as mentiras provavelmente pouco importam. Se não pode ver, não há. Então beberei estas farsas e estes 'amores' quebrados, antes que eles pensem que eu os quero. Porque facilmente eles confundiriam meu sorriso com alegria, bem como um olhar com desejo. Mas não há nada que eles possam me oferecer que eu não consiga arrancar de uma maneira mais brusca. Não quero estes sentimentos pacificados e ofertados. Quero puxar, brigar, pegar à força. Porque será nesse momento hostil que eles me entregarão a verdade. Sangrenta, cruel, como deve ser. Porque no momento eu to preferindo dores e uma garrafa de whisky do meu lado do que esses 'amores eternos' que terminam pela manhã.

30 comentários:

  1. lindo post!! Belas palavras! vc tem talento! :D

    Muito obrigada por comentar no meu blog! Estou te seguindo desde já! Se ainda não segues meu blog e canal no Youtube, peço que sigas por favor!
    Ah! E sempre que atualizar seu blog me avise!

    Beeeijooos e ótimo diiaa!!

    re-becah.blogspot.com.br

    www.youtube.com/user/blogdareh/featured

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  2. Fantastico como sempre estes momentos de angustia de solidao entre desamores que nem as noites conseguem esquecer,apenas resta esperar pela manha e recomeçar uma nova luta nesta realidade que e a vida ,um abraço amigo

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  3. -Sentei na beira da calçada. Tinham algumas formigas por perto que marchavam categoricamente em fila.
    Uauau adoro os detalhes tb sou um pqueno escritor q viaja na beleza dos detalhes, eles fzem a diferença e vc é um showww em cada detalhesinhoq transcreve, seu texto é muito bom, por isso gosto tanto de vir encantar-me por aqui, vai do tio Castanha pra vc um gauchesco abração tchê...

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  4. Oi meu garoto!
    Sua cabeça está cheia de intelectualidade banhadas em livros que também gosto de ler.É arrojado nas suas inquietas palavras misturadas de solidão, bebida e raiva. Uma raiva interior gostosa que agride, que puxa, que ama até o alvorecer.
    Eu já tinha vindo aqui hoje, li seu post e não deu para por comentário, pois tive que sair às pressas.
    Meu garoto, você é um gênio mirabolante intelectual
    Beijos lunares
    Lua Singular

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  5. Meu Amigo desculpe a ausência ...Mas você é fantástico ... Diz as verdade de uma forma tão clara e simples ...nua e crua como a vida é ...e por isso muito te admiro fico muito feliz em estar contigo aprendendo n a ver a vida de uma outra forma...as vezes teimo em remoer o que se foi ...se poderia ser diferente ...mas que nada pra frente é que se anda e o que passou passou ...bola nova e pra frente parabéns um grande abraço do amigo que muito te admira Pedro Pugliese

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  6. Boa Noite Amigo.
    Carinhosamente venho atender seu pedido mais sou eu que agradeço pela sua visita.
    Li sua postagem notei sua grande inteligência
    a cada palavra o livro que você leu com certeza é recomendável .
    Uma verdade que gostaria muito de colocar no papel foi seu comentário diante do livro .
    Espero que volte no meu blog breve vou colocar a última postagem de Natal.
    Desejo de coração continuar nossa linda amizade no próximo ano também.
    Beijos no coração carinhos na alma,Evanir.

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  7. Obrigada por visitar meu blog. Também gostei muito do trecho do livro que postou e do seu texto logo depois...Adoro mensagens reflexivas.Parabéns!
    Beijos!
    Paloma Viricio- Jornalismo na Alma

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  8. É uma ótima reflexão sem dúvidas e o trecho citado é sem visivelmente fascinante, mas preciso confessar, me perdi um pouco diante do seu texto =/

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  9. Somos sim, peças coladas nos caminhos ou ruas da vida, feito pedras de asfalto, feito algo importante com desleixo, Somos viciados na busca incessante de nós mesmos, onde o encontro doe e então nos fartamos de meandros imaginários; Porém não menos reconfortante...Ao criador do cliv B, com carinho.
    É aquí onde os grandes da blogosfera se encontram.Beijo do leitor.:-BYJOTAN

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  10. Mas que maravilha de reflexão!
    Adoro a sua forma de franca de dizer,
    tem mesmo que ser assim, recomeçar sempre... não adianta ficar adiando o inevitável.
    Obrigado pelo seu comentário, ele sempre é importante!
    Beijo e um feliz Natal cheio de bençãos!
    Mariangela

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  11. Há eternidades que não vêem a luz do dia seguinte e amores desamados que não encontram sequer a si mesmos. No tempo do balanço, todos pensam ser piores do que são; mas ninguém jamais fugirá do seu destino. É líquido, é certo, corre para a foz determinada. Excelente mais esse capítulo, amigo! Tenha uma semana de paz e carregada de impaciente talento! Abraços.

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  12. Oi, Luís!

    Tu escreves muito bem. Já te disse isso várias vezes.
    Pareces aqueles escritores com bipolaridade, ou com dupla personalidade, e que à custa dos goles, que vão ingerindo, sua escrita sai meia louca, mas perfeita.
    Mas, tu queres e o Clive, também.
    Com o tempo, isso vai passar e até vais destapar os olhos.

    Feliz Natal e bom Ano Novo.
    Beijo da Luz.

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  13. Luis com certeza escreve muito bem, não vou dizer nada do post acima, virei com tempo e lerei os anteriores assim poderei opinar melhor, grata pela visita.

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  14. Oi Clives!

    jamais saberemos a verdade absoluta, o que se passa na mente de um grande escritor como tu.

    Te desejo um Feliz Natal!

    Bjos

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  15. Olá estimado Clives,

    Desejo a voce um Feliz Natal. Eu faço votos que todos nós recebamos as bençãos para otimos 365 dias no novo ano juntos, compartilhando idéias e emoções.

    PAZ
    Sissym

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  16. Sumi um pouco, mas voltei. E tenho de dizer que estou ainda mais surpreendida por essa história.
    Realmente não tenho muito o que falar, só que o último parágrafo fez-me pensar e ver que sou eu ali. E a cada dia que passa o cansaço toma mais conta. E realmente já quero desistir...

    Beijos, Gi.

    PS: Teu nome é reamente Luiz Paz? Você tem jeito de Ricardo .-.

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  17. Oie!

    Muito obrigada pela visita em meu blog, fiquei muito feliz.

    Aliás, parabéns pelo texto, você escreve muito bem!

    Ah, já estou te seguindo =)

    beijos!

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  18. Também gostei desse trecho do livro que lestes!
    Mais uma coisa em comum...rsrsrsrs...
    Ruas com árvores silenciosas,que são banhadas pelo sol e pela lua(dizes respectivamente)...
    Interessante...em cenas assim quanta coisa passa pela nossa cabeça e principalmente na tua!!!
    Jamais terás tuas mãos e bolsos vazios,pois tu és cheio de sentimentos!
    Todos os bancos e pedras tem suas histórias para contar e tu as percebes como ninguém.
    Tanto,que ao se deitar nele(o banco)te sentes aconchegado...até veês a beleza do por do sol!
    Dizes não te importares com a paz fajuta...
    MENTIROSO!!!!
    Se não te importasses,não colocarias no papel o que dizes sentir!
    PRECISAS construir estes personagens...como seria tua vida sem eles?
    Já entrei em teu mundo,desde que tu me achastes e de ti eu gostei.
    Portanto,tua aquarela não tem mais cores infinitas...basta encontrar quem te queira bem...entendeu?
    Não tens limites?Irás até onde os aplausos te seguirem?
    Creia-me,sempre haverá aplausos,pois no fundo sempre seremos amadores de alguma coisa!
    E esse amadoreismo arranca aplausos estupendos daquele que nos querem bem.
    Não creio que os laços são perdas de tempo artísticas...o nó,sim!
    E o passado já está passado,tua liberdade está contigo!!!
    O escuro realmente é mais aconchegante...não deixa ver,mas existe o sentir,então,é uma forma de se ver!
    Mas chegará o tempo em que se quererá ver o brilho do dia!
    E essas dores e essa "pinga" deixará com que tu queiras mesmo ser o que tanto tu forças em dissimular:
    UM SER MARAVILHOSO A PROCURA DE QUEM ILUMINE A TUA PENUMBRA!

    Credoooooooo...acho que vais me contratar para escrever em teu blog...ksksksksksks...
    Tempo eu não teria para te ler,mas como me pedistes com esse teu jeitinho tão querido....aqui estou!!!!
    Agora me vou...
    Beijão,daqueles estúpidamente enorrrrrrrrrrrrrrrrmes...carregados de ternura!











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  19. É preciso humildade para reconhecer que não fazemos ideia do que Deus está
    planejando a nosso respeito. Precisamos reconhecer que pode ser algo radicalmente
    diferente daquilo que já recebemos dele. Precisamos não esperar nada em especial para
    nos surpreender e maravilhar ao ver o que Ele fará.
    Com essa mensagem de fé esperança e amor
    venho te desejar um abençoado Natal a você família e amigos.
    De todo coração agradeço por compartilhar sua amizade comigo
    marcando sua doce presença de Natal a Natal.
    Que a festa do aniversariante seja linda e inesquecível.
    Beijos no coração e carinhos na alma,Evanir.

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  20. Adorei, Luis... e é nos momentos mais melancólicos que aparecem oportunidades de refletir e dar a volta por cima, isso se chama amadurecimento e quem consegue isso, é um herói. abraços e tudo de bom.

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  21. Muito intenso, gostei pra caramba.
    Desculpa pela demora pra vim aqui, por falta de tempo e alguns problemas, agora estou de volta. até breve. http://desventuras-em.blogspot.com.br

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  22. Oi, Luiz! Passei para desejar um Natal cheio de coisas boas para lembrar! Um abraço!

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  23. Um Natal de muita Paz, Luz e Amor, Deus abençoe toda sua família
    Bjs Kaka

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  24. Boa noite Luis, tenho certeza
    de que, o Clive irá entender.
    Deixe passar esses dois dias
    corridos dia 24 e 25/12 e com
    todo meu carinho e respeito, irei
    ler tudo e comentar cada linha, e tudo
    que eu encontrar nas entrelinhas, ok?
    Sei que tanto voce, como o Clive, vão
    me esperar para ler...No mais, desejo aos
    dois, UM FELIZ NATAL repleto de LUZ, SAUDE,
    PAZ E AMOR...muito AMORRRR!!
    Bjinhos carinhosos e até breve!

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  25. Amigo Luis, tem sido difícil gerir o tempo, não tenho conseguido dedicar-me ao blog nem fazer visitas, mas não posso deixar de desejar um santo natal. Que Deus ilumine o teu caminho, que o amor e a alegria reine em tua vida. Um abraço e Feliz Natal.

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  26. Luís, eu tenho é medo de Clive...trazer a psicopatia e o gostar de sofrer é coisa de "doido". Eu quero mais é viver todo o inverso disso e, no final, prefiro os amores que acabam pela manhã porque sentir o coração palpitar e entregar-se é uma das coisas mais gostosas que existem - e não, eu não sou masoquista..rsrs.

    Obrigada pelo elogio às minhas pernas, estou até pensando em proximo ano..mostrar outra parte do meu corpo..rsrs. A música "Eu comi a madona"? Hum..interessante..haha.

    Um Beijo e Feliz Natal!

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  27. Olá Luiz .... <3


    Que maravilhoso, tão sincero por isso tão bom !!!

    Muito feliz com sua adorável presença e
    carinhoso comentário!

    Obrigado sempre...^^


    (seguindo).(* Feliz 2013)

    BeeeejoO..Darlene Alves...^^



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  28. Salve Luiz! Que honra sua visita lá no meu cantinho, seguindo tá! adorei tudo por aqui. Suas poesias são de muitíssimo bom gosto e de profundidade magnifica. Um feliz ano novo e muita paz em sua vida Luiz. Forte abraço Poeta!

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  29. Cheguei aqui...Nono capitulo e até
    o momento, ultimo. Estou sem palavras
    para descrever o que senti ao te ler
    até aqui...Um mundo conturbado de um
    cara com auto estima baixa. Solidão é
    uma de suas companheiras, no qual, ele
    realmente tem vontade de ter por perto.
    Deus, vez ou ouutra, aparece para ajuda-lo.
    Mas me parece que Clive não quer isso, ao
    contrário, adora ser livre, sofrer, tudo
    para ele tem de ser intenso, forte, doido...
    Até o Amor tem que doer. Ele me parece um
    ser auto destrutivo, que precisa se encontrar
    pois em sua dualidade, não sabe nem quem ele é.
    Enfim, se viajei nas minhas coloccações, foi
    por culpa de tuas palavras bem colocadas e de
    forma tão intensa. Criei cenas em minha cabeça,
    senti cada dor do Clive e sua solidão...Senti o rompimento, as dores e o sofrimento do Clive
    suicida...Cara, to de queixo caido com teu conto.
    E como vivo sempre a flor da pele, acho que
    senti tudo em dobro. ADOREI! Quero continiação.
    Vai ter? Voltarei para espiar, to curiosa com o andamento da historia! abraços e Parabens, voce
    conseguiu me prender em cada linha.

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  30. Olá Luis, fiquei feliz com sua visita no meu cantinho!
    Adorei teus textos!
    Estou te seguindo!
    Feliz ano novo!
    http://zenafashion.blogspot.com.es

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Leia com atenção.
Não esquecendo que tudo é desenvolvido como poesia livre, seja uma crítica ou um ponto de vista.
Ninguém é obrigado a concordar, mas respeitar e ser sincero ajuda ^^