Bastaria para eu me perder em meus sonhos, que ele não dissesse nada. Sua falta de argumentos, me desnorteava. Quem sabe porque ele não tinha o que dizer. Ou talvez porque nada o que dissesse mudaria minha opinião agora. O fato é que ele ainda me fazia perder a fala, mesmo em silêncio.
Bastaria então, eu viver essa tal de abstinência poética, para que ele tivesse muito o que contar. E esse excesso de informações, que outrora era inexistente, agora me avassalava como uma avalanche. Perdia então, a fala novamente.
Bastaria ainda, que dissesse que me ama, para que todas minhas certezas almejadas se rompessem e esfarelassem em novas incertezas. E tudo que havia planejado, teria que ser repensado. O que posso dizer?
Bastou ele dizer-me que me ama, e eu tolamente acreditei com todas as forças, e assim creditei nele toda uma confiança renovada pela dor. Bastou-me ouvir juras (que por vezes soaram como injúrias) para empunhar-me de esperanças e afagos. Mas tinha muito a ser dito.
Não bastasse desarmar-me de todas as malícias e propecções, ainda atirou-me num inebriante mar de culpa. Ora, cala-te. Eu sabia o que tinha de ser dito.
Bastaria-me sussurrar palavras ao vento, e ao deleite de ouví-las, poderia descansar em paz. Mas parecia que ele havia as catado (e assim acatado), e com um único e certeiro golpe, fez-me acreditar nele. Basta! Não posso pestanejar. Tenho que lhe dizer...
Erguendo-se tiranamente perante meus encabulados olhos, fixou-me um também tirano olhar, à espera de minhas condolências. E assim bastou-se, para que eu lhe dissesse, num só tempo:
"Não sei de que lado estou, nem para qual lado correr, ou ainda qual lado comprar, mas sempre que disseres que me ama, eu hei de acreditar".
Fitou-me então, perversamente e sorriu.
Quando dei por mim, o via cada vez mais longe, mais distante, sombreando o horizonte. E ao acordar, lá estava ele, devorando-me com um malicioso (mas terno) olhar. E bastou-me então que ele dissesse "Eu te Amo", para que eu o amasse novamente.
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