terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

As 7 cegueiras:

---Passou-se o tempo, e com ele surge o homem. Um ser capaz de raciocinar e também de enxergar. Era capaz de utilizar de sua inventividade para construir prédios, carros, computador, rádios, escadas, roupas e tudo mais que sustentasse suas necessidades. Este dom veio acompanhado de uma terrível maldição: Por mais que fosse capaz de construir as coisas com o suor do seu trabalho, começou a invejar a habilidade dos outros homens, que utilizavam suas habilidade e criatividade para fornecer demais benefícios desnecessários. Claro, o homem sabia que era capaz de fazer o que quisesse, mas não aceitava o fato de ter outros capazes de produzir mais que ele. Então, tudo passou da mais acomodada paz para uma eterna batalha de egos, onde ganharia aquele que conquistasse o maior território. Era capaz das mesmas proezas, o jogo era o mesmo, mas as cartas do oponente sempre pareceram mais interessantes...

---Esta luta jamais teve fim, e intediados de confrontarem-se, por perceber que nada mais ganhariam, iniciou-se um sentimento de ganância, onde o que mais valia no momento, não era apenas a vitória e sim o quanto ganhariam por ela. O problema não foi só este, acontece que quanto mais batalhas eram vencidas, mais confrontos o homem desejava ganhar, para assim aumentar seu império egocêntrico de falsa satisfação...

---Com tantas vitórias já conquistadas, o homem adquiriu diversos bens, e começou a consolidar sua fortaleza de egoísmo. Apesar de enxergar com perfeição, não abria mais os olhos suficientemente para perceber que tudo poderia se desvair por sua insolência. Riqueza e vitórias o satisfizeram durante muito tempo, mas sua necessidade de apego a elas o corrompeu. Nada poderia ser doado, emprestado... Era como se todo o luxo e poder fizesse parte de sua pútrida alma. Ele conquistou, ele dominará...

---Eis que após todo esse conforto, faltava-lhe a satisfação sexual. O toque carnal ao seu semelhante lhe fazia necessário. Apesar de dominar tudo ao seu redor, o homem não dominava as emoções. Quem dera tivesse aprendido a controlar o êxtase carnal. Uma pessoa não bastara. Era necessária a certeza de que era desejado. Foi fácil atingir seu ego. Abriu-se a brecha para um ponto fraco: O homem precisava de afeto, carinho, sexo. O amor jamais foi encontrado. A neblina da levianidade pairou e acizentou sua visão....

---Sabendo deste novo ponto fraco, o homem viu-se obrigado a encontrar um jeito de desviar sua atenção do pecado da carne. E encontrou. Apaixonou-se por seus próprios olhos, boca, nariz, braços, voz e tudo aquilo que lhe fizera humano. Passou a se auto-vangloriar e começou então o declínio ao seu interior. Seus únicos amantes eram o espelho e a superficialidade. Se achara o bálsamo mais valoroso e a brisa mais fria de uma noite quente. Não temia mais a derrota, apenas a solidão...

---Neste momento, o ódio arrebatou seus pensamentos. Ele foi avisado de que seu grande poder cairia perante seus olhos, mas infelizmente, após perceber sua cegueira, tornou-se tarde demais para notar que também não mais ouvia. Tudo era motivo para irritação: a falta de rivais, a insatisfação carnal, uma pequena ruga que agora avistava na testa, apesar de ter tido a certeza que ontem mesmo ela não estava ali. Culpou a outro, por cobiçar seu poder. Poder? O império humano começou a fraquejar, e sua grande capacidade de inventividade passou a sucumbir. O ódio o dominou, dominou seu raciocínio...

---Foi claro , que o homem sempre teve o poder de tomar decisões e atitudes. Rumou de acordo com o vento que quis. Infelizmente sentiu-se cansado de tentar, achou jamais ser possível amar alguém, e após um erro, conformou-se com a perda. Não achou útil sua presença e trancafiou-se dentro dele mesmo, fugindo de si e dos outros. Ignorou os olhares, e aceitou o engano. Perdeu a fé nos outros homens e passou a se achar feio. Não era mais necessário batalhar nem economizar feitos. Desistiu de odiar, de sorrir, de amar, e de sentir. Claro, o homem foi avisado de que um dia perderia tudo, mas estava ocupado demais, olhando pra si próprio.

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