terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Segundo: Enquanto Formos Jovens, Viveremos e Morreremos Por Nós Mesmos...

O escuro é uma metamorfose diferente dentro de cada um. Os diferentes prismas que as sombras podem ofertar, são jóias singulares e peculiares, dentro de seus próprios mundos inventados. Por exemplo, no escuro do meu quarto eu me sinto seguro. Protegido. Nada pode me atacar. Ao mesmo tempo, baixo as defesas e algo em mim parece se revelar. Talvez uma parte que jamais seja apresentada às pessoas. Um versículo arrancado e remoído de uma poesia parafraseada de alguém com muita solidão e libertinagem a oferecer. Sob o escuro do meu quarto, eu me permito ser fraco e degradante. E assumo a responsabilidade de aguentar a culposa e silenciosa penitência que as paredes oferecem.


Mas ainda assim, para uma criança, as paredes do quarto são como muralhas do seu castelo.


Há milhares de mensagens subliminares escondidas ao redor destas paredes. Tantas gargalhadas. Tanta culpa. Tanto desprezo. Tudo foi tingindo e varrendo as verdades pra baixo do tapete numa tentativa de justificar todos os erros conseguintes.


E aqui eu compus canções pelo meu corpo. E meu pulso foi a tábua preferida pra justificar as composições. Eu sou uma orquestra toda trabalhando sem um maestro. Eu só faço barulhos incompreensíveis.


Por outro lado, sob o escuro da rua eu ganho forças. A noite me concede a liberdade que qualquer poeta necessita. Eu assovio pontes e aspiro neve em flocos. Toda a insegurança injeta a droga que eu preciso pra criar. Pra existir. Eu danço com o sexo e a noite. Porque o dia é a minha ressaca recorrente. Eu bebo o pôr-do-sol porque só ele entende as minhas lágrimas aprisionadas pelo meu orgulho, e a minha corrida incessante de mim mesmo. Corro pelo crepúsculo, mas corro ainda mais pra não chegar a lugar algum.


Só ele sabe que eu grito no escuro porque acho que alguém, algum dia, me ouvirá e me resgatará. E eu bebo a voz das estrelas e a auto-piedade que sobra. Eu trago de volta cada dor pra assim viver uma noite mais. Eu sangro meu coração todo fim de noite, mas ninguém percebe. Mas agora eu preciso guardar tudo o que me sobrou pro próximo drink.

Eu vivo rápido e morro jovem várias vezes, e esse é o meu destino.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Primeiro: Bebo A Vida Que É Minha

"Enganado estava aquele que recusou minha mão. Eu estendo esperança aos desabrigados de amor. E mesmo reprimindo minhas própria docência e pondo ao altar toda minha culpa, sentencio meus erros com a solidão. Eu não sou bêbado porque bebo. As drogas mais comuns e tão faladas não são o problema da humanidade. As pessoas tornam-se seus próprios demônios, e a caçada ao céu, afasta-se ainda mais cada vez que meus pulsos se abrem e as cicatrizes relembram minhas fúrias. Eu bebo a torcida negativa para a minha morte, e danço com a sombra negra da felicidade. Não sou bêbado porque bebo culpa e sofreguidão. Meu amor é auto-destrutivo, indecente. Eu reconstruo verdades, e aspiro o pó da minha realidade. Meus lábios se comprimem, numa mordida voraz, enquanto minhas mãos ficam ásperas e meus olhos calam. Eu sou dançarino das letras, contemplo a noite nos seus perigos e convites maldosos. Porque existem abraços que são como beijos, e eu bebo eles também. Mas não sou bêbado porque bebo. Nem sou feliz porque sorrio. Sou a verdade do medo, e a ressaca da compaixão. Não sou nada além de um guerreiro do nada. Mas agora você ficará sentado, vendo meu mundo girar e lidando com sua fraqueza. Eu recolhi minha mão, meu abraço e até meu beijo. Entreguei-lhe ao caloroso abraço do passado. Eu não sou bom quando amo, e tampouco me importo com as feridas que causo. Dor é a marca de nascença da humanidade, e se tu ainda não consegues respirar sem as palavras dos outros, tu não estás pronto para dançar comigo. Eu bebo porque amo. Mas bebo ainda mais porque desamo."



Eu não sou caso perdido, nem epidemia de pessimismo. Não me acho negativo como acusam. Mas entendo que sintam-se ofendidos pelos meus pontos de vista. Eu não vivo pra agradar as boas vontades. Eu luto pra mostrar outras facetas de nós mesmo. E bem, se eu não puder odiar tudo o que eu quero e amar as coisas ruins, então dane-se essa tal liberdade. Porque eu sei que posso ser amado em cada centímetro das minhas atitudes, e sei mais ainda que posso fazer-te desgostar mais rápido ainda. Eu sei aonde a ferida dói, e é sempre nela que eu quero chegar.



Eu não quero viver mais da mesma peça. O meu objetivo é o improviso. Perder a rota. Se eu quisesse contos de fadas eu viveria pela infância. Eu nadaria pelos lábios que mandam eu gostar. E nem rebelde sou. Eu só amo cada parte das confusões que causo, e mais do que isso, eu perco os sentidos em busca de algo maior.


Ok, eu não sei ao certo o que eu quero, mas ter uma vida planejada com regras e horários na certa que não é. Eu gosto mesmo é do sabor de malte das tardes inconsequentes. De olhos borbulhantes pela primeira aventura. Eu carrego os medos nas costas, e quem vem comigo, está protegido das dores. Eu as trago pra mim. E as trago. E levo.



Não há nada como a primeira vez. Só esse sabor me importa. A primeira vez repetidas vezes. Várias, incontáveis. E se eu puder extrair diversas primeiras vezes de alguém, bem, acho que estarei apaixonado. Porque para amar, eu preciso matar algo que esteja adormecido.





"Uma coisa que tenho aprendido é que as coisas mudam, as pessoas mudam e até mesmo nós, se olharmos pra trás, veremos que já não somos como éramos antes. E acho que tudo isso acontece porque vivemos, não ficamos parados, é nossa história sendo escrita. Deve ser horrível você olhar pra trás e ver que não construiu nada, que não sofreu, não chorou, não sorriu... ver que continua na mesma vida, do mesmo jeito, e na maioria das vezes por medo de fracassar. Acho que o maior covarde é quem age assim, sempre com medo de fracassar."



Dimitri, Desejo.