quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo: Uma Pessoa a Qual eu Amaria, Se Acreditasse Nessas Coisas...

"Talvez você tenha chegado num ponto muito alto. Onde sua casa queimou sem que você percebesse e as multidões deram vez ao vácuo montanhesco da solidão. Mas as perguntas continuam. Aaahh não, elas nunca param! E mesmo com estas ruínas e pedaços pendurados, você ainda se pergunta se esta é a hora de insistir ou deixar morrer. "


Ele queria uma fórmula, um conceito. Eu inovei todos os ares e respirei por ele, quando mal conseguia por mim mesmo. Agora eu não posso dar dicas, mostrar flechas, entregar-lhe um mapa. Eu já dei mais de mim do que daria pra qualquer um, normalmente. Mas nesse tempo, meu eixo entre a normalidade e o paradigma se confundiu bastante. Eu já nem sei mais o que eu queria. E claro, o porquê. As perguntas, sempre elas. Me paralisam. Me consomem. E no silêncio da ausência de resposta, nossas mãos se desprenderam, e seus olhos perderam o sentido pra mim. Eu o atropelei, antes que me ferisse. Eu não tinha uma segunda chance, não podia errar de novo. Então, ataquei.


Algumas dúvidas do passado devem ser enforcadas, antes que elas retornem. Em alguns momentos até nos iludimos com a possibilidade de reatar e consertar gestos e ações que não foram bem sucedidas. Mas as coisas não têm que dar sempre certo. Não precisam estar corretas. Nem sentido elas precisam ter. E persistir numa má escolha, te leva pra um caminho irremediável. Seja forte! Seja aquilo que você sempre sonhou. Só dessa vez, não dê as costas. Não ignore. Encare. Pela última vez. Dê a pá de areia que esta vida necessita. Afogue esta ansiedade. Beba. Consuma-a. Entre no próximo bar e dê um jeito.
Todas essas palavras que eu gritava, emudeceram enquanto os olhos reabriram pra mim, e as mãos tocaram as minhas, de novo.



Eu comi as rosas mesmo não saboreando-as, me embriaguei de esperanças como nunca tivera feito, e fiz desejos lançados a algo maior, soberano, transcendental. Queria uma voz que me ouvisse. Naturalmente isso me incomodaria. Mas eu quis experimentar a sorte infantil, o contragosto desse duelo com a verdade.



Mas quer saber? Eu sou Clive. Não preciso de jogos, nem de duelos. Não tenho que provar nada, nem a mim mesmo. Deixo que meus medos falem alto, grito, corro, bato, xingo. Sou quente como as lâminas de uma espada que ringem no chão, em plena guerra. Sou aço e rocha. Eu bebo os problemas e os amores. E se duvidar, ainda brindo com um desconhecido antes de devorá-lo. Eu mostro a face da sedução, do convite imprudente, sacana. Eu mordo lábios, e deles nunca mais saio. E se quiseres amor, ache um motivo para gostar de si mesmo, porque eu transbordei minhas fichas na última máquina, peguei um táxi sem dinheiro pra pagar, e ainda consegui uma noitada com o motorista. Porque eu abuso das possibilidades e vejo sexo em quase tudo. Então se você quiser alguém de fato, venha mais perto e lamba meu pescoço, porque hoje eu serei o seu amor e o seu benzinho. Só não espere considerações e um anel de compromisso.


Porque minhas noites são cheias, mas pela manhã minhas palavras são vazias.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Eu sou... Clive B. Capítulo Nono - Em Cada Pedra Dessa Rua, Há Um Pouco de Mim


"E naquele momento, quando decidi que não queria mais voltar para casa, percebi que pela primeira vez não tinha tomado essa decisão por ser mimada ou fugir dos relacionamentos que eram importantes. Naquele momento percebi que o objetivo não era "concertar" todos relacionamentos conturbados que eu tinha, e sim apenas seguir em frente. Não ficar remoendo ou tentando remendar as coisas, porque na verdade tudo nessa vida tem a oportunidade certa, e não adianta insistir, pelo contrário, insitir no que não foi é ser masoquista.
Aquilo era sobre eu percebendo que abrir mão de um relacionamento que me fez mal era a prova de que pela primeira vez estava sendo a menina corajosa que sempre quis ser."

Pandora, Desejo.



Gosto deste trecho acima. É de um livro. Muito bom por sinal. Às vezes acho que sou mais um personagem nesta história. Porque o retrato da vida tem vários ângulos, e o livro 'Desejo' dá uma porção deles. Onde eu deveria estar?


Triste melodia carregavam aquelas árvores. Adentrei numa rua coberta por elas. Folhas grandes e vistosas. Abandonadas no silêncio das suas cores. Banhadas pelo sol e a lua, respectivamente. Uniformes. Formavam uma corrente pela qual eu queria ser embebido. Meus passos quase ecoavam por lá. A rua tinha pedras avermelhadas e deformadas. As calçadas tinham bancos acinzentados que na certa assistiram diversas lágrimas e beijos. Telespectadores das vidas que por aqui desfilaram. Eu era o novato. Mãos vazias. Bolsos vazios. Histórias a escrever.


Sentei na beira da calçada. Tinham algumas formigas por perto que marchavam categoricamente em fila. Demorou pouco para que o sol adormecesse. Os últimos raios alaranjados foram uma pintura incomum. Passei a mão pelo cabelo e deitei no banco. A nostalgia me atingiu como um cão que corre para pegar o osso que o dono lançou. Brincadeira boba que os caninos agradecem com um balançar de rabo. Deve ser sarcasmo deles.

Eu me alimento de dor. Mais do que simples quebras de contrato, eu me deleito com o sofrimento. Eu entro nas vidas e as manipulo. Com facilidade. Logo todos jogam o meu jogo. Psicopatia é meu café da manhã favorito. Talvez seja uma dose egocêntrica que eu engulo tão rápido. Só quando protagonizo (ou antagonizo) vidas e histórias, minha alma sossega com paz. Uma paz fajuta, comprada. Mas de que importa? Tenho alma teatral. Construo personagens e facetas, e logo faço uma festa e celebro todos estes temperamentos. É enlouquecedor... Mas foi cada fraqueza que roubei dos labios beijados pelo meu cinismo que foi usada para a construção deste baile de máscaras.


Agora eu seria Clive. A faceta ideal pra lidar com as desilusões e ilusões de desamor. Sou vítima da minha própria distimia. Auto-medico cada batida desse coração obscuro com goles de tequila. Porque a noite é o meu quadro em branco, e cada dia é uma nova inspiração para pintá-lo. Minha aquarela de mentiras é um arsenal infindável. E o último gole vocês assistiram. Vocês jamais saberão a verdade absoluta (se esta existir). Porque só mostro os lados mais rasos do meu mundo. E até onde estariam dispostos a adentrar?



Mas caótico ou supérfluo, o personagem é sempre uma busca por auto-identidade. Ou simplesmente uma atitude desvirtualizada da cena principal. Eu não tenho limites. Atuarei até onde os aplausos me seguirem. Mas para isso, preciso arrancar as partes que ainda me acorrentam ao amadorismo. Porque laços são perdas de tempo artística. Só quando libertar-me do passado poderei nadar pelas correntezas do meu corpo.


O escuro é mais aconchegante. Quando o peso, o tipo de cabelo e as mentiras provavelmente pouco importam. Se não pode ver, não há. Então beberei estas farsas e estes 'amores' quebrados, antes que eles pensem que eu os quero. Porque facilmente eles confundiriam meu sorriso com alegria, bem como um olhar com desejo. Mas não há nada que eles possam me oferecer que eu não consiga arrancar de uma maneira mais brusca. Não quero estes sentimentos pacificados e ofertados. Quero puxar, brigar, pegar à força. Porque será nesse momento hostil que eles me entregarão a verdade. Sangrenta, cruel, como deve ser. Porque no momento eu to preferindo dores e uma garrafa de whisky do meu lado do que esses 'amores eternos' que terminam pela manhã.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Eu sou... Clive B. Capítulo Oitavo: Se fosse Apenas uma Carta, Talvez as Lágrimas Calassem

Eis a carta que deixara antes de sair:

"
Perante todos os acontecimentos, eu ainda não me encontro em lugar algum. A vida vai passando, os fatos se repetem. Outros pioram. E raramente algo muda positivamente. Mas talvez altere sim. E mesmo que seja muito mais fácil erguer paredes e muralhas ao redor, isolando-se dos problemas, logo elas sufocam, e tudo o que resta é um novo mundo isolado. Ilhado. E talvez tarde ou não, percebe-se que tu se tornou espectador na sua própria vida. É possível aplaudir pessoas, e baixar a cabeça. As decepções se acumulam. Os problemas crescem. As ilusões te inundam, te inflam. E logo, sem saber nadar nas mentiras criadas por si próprio, te afogam. Sem resgate à vista, tenta-se atitudes questionáveis. Atentados. Uma dose a mais de culpa e medo. Solidão em drink duplo. E por mais que tu queiras companhia, não consegue. Tu és agora um repelente natural às pessoas e à vida. E tua mente tornou-se tão inconstante e inóspita, que o mundo todo perde o sentido. A beleza torna-se algo abstrato (mais do que antes) e os antigos métodos escapistas falham. Tu só queres uma companhia. Alguém pra reclamar da vida, pra cantarolar, mesmo que desafinando, pra abraçar e sentir o aroma das batalhas, os cabelos que tocam teus olhos e as mãos, que carregam a história dos confrontos, dos duelos e das páginas amareladas dos livros. O aroma de baunilha do passado te beija, numa despedida. E mesmo sabendo das dores (que virão), tu ainda desejas ter um laço imaterial e inexplicável com alguém (ou alguéns). Uma parceria confiável, para juntos visitar mundos inabitados e nadar pelas estradas montanhosas da noite. Bastaria um pouco menos de solidão, e talvez a vida se colorisse com sabores e aromas mais amenos. Nem precisaria ser tão real. A fantasia já seria excitante o bastante. Mas agora o pesar no meu peito palpita. As lágrimas emudeceram perante o eco que antes eclodia no meu peito. E todas as piadas perderam a graça. Porque por mais que eu quisesse, implorasse, despisse de véus e armaduras, chorasse, lutasse... Seria tarde. Agora a solidão eterna encontra-se ao meu lado. E nestes olhos velados pelo silêncio adormecerão os contos que jamais foram narrados e as poesias jamais declamadas. É o fim da canção do aprochego. Da esperança.
Os dias findaram. E os sonhos também.



Ps* Perdoe-me pelos possíveis erros ortográficos, e a falta de jeito. Isso tudo deveria ser mais natural e mais fácil, mas agora eu percebo que sou mais do que nunca o Clive. E eu só vejo as coisas ruins."