segunda-feira, 23 de julho de 2012

Relato de um Bom Homem:

Naquele tempo tudo era tão diferente! Os lugares tinham um gosto diferente e o desconhecido era sexualmente atraente. Acho que quando pouco se conhece, tudo soa excitante. Até minha timidez me mascarava com outro sabor. Um doce que escorria pelos meus lábios enquanto caçavam a visível inocência nos meus olhos.


E agora tudo parece eternizado num sonho. Como que irreal. Alucinógeno. Talvez eu nem tenha de fato tido aquelas brigas, roubado aqueles beijos ou desafiado os perigos. Mas tudo ficou gravado na minha história, como um pedaço arrancado do livro.

Eu até duvidava de tantas bondades. E as vendas que eram postas sobre os elogios velados me confundiam. Mas a adrenalina das descobertas - lentas, mas instigantes - era um tesouro resguardado.


Eu poderia até negar tudo que eu fui, e passar uma tinta branca no passado, dando a ideia de que tudo começou agora. Sem erros. Mas acho que seria inútil, afinal os erros e as ilusões criaram o personagem que hoje eu enceno. E cada parte dos questionamentos foram passos a serem dados. Inevitavelmente.


Eu só sinto falta daqueles amores que eu construía no silêncio. Sob pressão e fugindo dos flashes e das intempéries. Eu preferia aquele gostar inventado, que talvez nem existisse, mas que platonicamente me reinventava. Porque hoje minhas criações se limitaram. O que é, é. Simples e monocromático. Aquela aventura adolescente se extinguiu. E os amores que eu idolatrava, idealizava, não se erguem mais com a imaginação. Tudo que eu tenho a oferecer são minhas palavras pra você.


E talvez este seja um processo embutido da vida. Porque quanto mais eu acho que sei, é que eu percebo que ainda nem entrei no jogo. E como os cabelos que queremos ora longos, curtos, raspados, ondulados, lisos, tingidos, cobertos... O jogo da vida nos propõe a descoberta. E o que ganhamos em troca é a possibilidade de mudar. A metamorfose infinita das ideias. E o ontem que eu me sentia muito bem com cabelos curtos e bagunçados foi deixado pra trás. Não ignorado. Apenas eternizado. O agora me permite ousar, diferenciar. Utilizar o inimaginável. O que antes era incombinável. O que agora é descolado. Porque só o que importa é a busca pela mutação.


E no final é isso que eu almejo. Mais e mais personagens dentro da mesma história. Protagonistas suspeitos, com traços de vilania.

E ainda que o ontem fora mais afável e acolhedor, é pro amanhã que eu me visto. Como nas histórias em quadrinhos. Mas desta vez os heróis não são reconhecidos por usar capa e símbolos estampados no peito. E nem os vilões são tão ruins assim. Porque o tempo será responsável por desvencilhar a impunidade teatral da egomania.


E talvez num momento qualquer tudo volte a ser como antes, ao menos na memória. Onde os doces tem mais açúcar e os confrontos mais sangue derramado...


Exagerado. Eu sou mesmo exagerado!
Procuro um amor inventado...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Relato Auto-Biográfico de um Príncipe:

Eu dei minha vida. Entreguei a dádiva divina sem pestanejar, sem duvidar. Não tive meias palavras ou o que pensar. Fui assim, logo de cara, ofertando minha vida toda. Embora nem tão longa ou vivida, mas experimentada. E com ela foram-se meus sonhos e minhas vontades mais íntimas e questionáveis.

Sem me importar ou refletir. Sem ao menos pedir. Apenas fiz assim. Entreguei a vida, como símbolo de algo maior. Uma coisa imensurável, inenarrável. Como se fosse bobagem. Entreguei alma e coração, e todos que por eles já passaram. Porque quando doei minha vida, juntos se foram todos aqueles que nela acolhi. E até alguns que reneguei. E daí em diante, a responsabilidade foi outra.


Sou um amador clichê. Poeta falcatrua que não bebe. Só me embriago de arrependimentos. Ébrio de mentiras. Sou um poeta ao meio. Ao inverso. Sem sexo como refúgio. Apenas mais um mergulho inconsequente. Fugaz. Uma dose dupla de orgulho e uma injeção de martini e auto-estima.

E mesmo assim dei toda a vida que assisti. Que contracenei. Que em períodos evasivos foram atuados e banhados de moralismo.


Entreguei minha vida e com ela cada pedaço dessa onomatopeia em versos. Um luto áurico. Inexplicável. Insensível. De paixão mórbida e duvidosa... Só sei que nasci com algo morto em mim.

E toda essa trajetória circular e dependente de uma força centrípeta (como explica a física), nem foi tão interessante. Nem provei de tudo ou de todos. Não fiz nada memorável. Ergui críticas intelectualmente escapistas e escolhi caminhos errados. Me atei num futuro que nunca chegou e deixei o passado desfalecer. Despetalar. Mas ainda assim minha vida foi concedida. Reclusão consensual. Eis um minuto de pausa...


A chuva lá fora já castiga os sonâmbulos noites a dentro. E que noites! Vidas e mais vidas que se vivem em horas. Em minúcias. O escuro acolhe os temores - E os céus.
As luzes se intimidam. Incomodam. Prato cheio pras canções.
E como um leopardo faminto, à espreita, o mundo todo te observa. Até te engolir.

E não resta nada. Porque o castigo que eu oferto a mim soa suficiente. As fomes são saciadas e as sedes extintas.

A vida vai acabando, ao ser entregue, junto com o poema que abandonou as rimas.
E como eles, no final, o príncipe morre.

terça-feira, 3 de julho de 2012

A Última Profecia do Soldado Sociopata, de Peixes:

" Peixes seu destino é finalizar a evolução, guiar a Humanidade ao Nirvana e acabar com os Mistérios "


-- Como toda vida, a paixão tem seus altos e baixos. O que eu naturalmente faço é absorver a pior parte dela e reconstruí-la.


" Eu renego a ordem fisiológica das coisas. Discordo da vida e de suas versões. Não aceito suas teorias, suas práticas ou suas evoluções. Renego o companheirismo obrigatório e o querer disfarço de inimigo. Fogo e terra devem brigar. Ar e água nunca conversar. E por mais que queira, não usar amor como desculpa esfarrapada.

Eu sou o lado quebrado das histórias. O atalho desleal, pecaminoso. Um conto que se passou na Idade Média. Um bárbaro medieval que mergulhou no sangue negro da História e transformou-se num cardume infindável de questionamentos. Aaahhh Peixes!


Sou yin e yang em dúbio relacionamento. Não quero mais nem menos. Quero o todo, partido ao meio.

A fé se alimenta do desespero. Guerras são respostas imediatas. Não temos tempos. Nem caráter.
Meus heróis morreram de overdose. Meus inimigos estão no poder.

A Igreja fora manchada por uma ideologia medíocre, e seus seguidores condenados à uma fé pútrida e dissipada.

Os Deuses estarão lá, num horizonte afastado, inalcançável, de rochas vermelhas e árvores prateadas -- disse ele. Eles serão seu guerreiro, sua espada e seu escudo. Seu missionário em campo rival.
Mas até eles abandonaram os falsos templos. Não tenho mais provas, mas sei que eles não estão lá.

Sou assexual. Atemporal. Um mensageiro sem cartas. Dane-se! Prove o sabor da despedida eterna.

Eu sou a rosa encrostada num jardim de ervas venenosas. O último dos últimos cavaleiros. Carrego a última ponta da tríade marítima. Agora os pilares estão desmoronando e as crenças apodrecendo.


Eu sinto todos se desintegrando, pouco a pouco. E cada novo segundo, o ébrio dilacerar de almas expande sua corrupção. A foice dourada do Anjo Negro está denegrindo os 11 outros fiéis templários. Mídia, status social e estética compraram a Igreja e os abandonados. O mundo todo está de cabeça pra baixo, e não roda mais.


O abraço cansado dos Deuses me persegue. Talvez um fim.
Eu sou o soldado pisciano. Carrego sobre os ombros todo o poder corrosivo dos oceanos sanguinários.
Não quero paz. Não quero dinheiro.

As nações foram erguidas sobre mentiras e trapaças, e o tempo das respostas se avizinha. A redenção virá. Os Deuses novamente dominarão (se tivermos sorte). O caos está alojado em todos os astros.


... As torres serão inundadas, e os cavalos atados.
O Fogo Consumirá os Peões e o Ar sufocará os bispos.
A Terra engolirá as mentiras, e a Rainha não escapará.
Nesta selva perdida, o Rei ascenderá.
Sozinho. '